sexta-feira, 19 de julho de 2013

A Missa do 7º Dia

Aleluia do morgado de Monforte

Crítica de leitura

Vinte páginas, uma leitura muito agradável de uma “quase” bonita história de amor. No “quase”, a surpresa do desenlace. O gabiru da cidade e a Aninhas da pensão da Madalena como que se esfumam perante a força e a astúcia de uma mãe que sabe muito bem o que quer para a filha, agindo e seduzindo o futuro genro, o morgado de Monforte, até o trancar no quarto da moça. Muito engraçado. Uma mulher prática, transmontana até à medula, quer pela conduta, quer pelo discurso. A viragem que aquela missa de 7º dia provoca na ação, faz dela a escolha do título da obra.


E que dizer da toponímia da cidade de Chaves? As ruas, os estabelecimentos comerciais são uma referência constante – o Mocho, os Machados, o Benjamim Eugénio Leite, a padaria Rito, a pensão Império, o Central. Os dois antigos clubes, a feira dos recos no Campo da Fonte, a feira do gado no Tabulado, são pinceladas breves da vida flaviense do século passado.


A linguagem é saborosamente coloquial, com marcas de oralidade local – o biju da Gracinda, a sêmea de Lebução, o meio dia novo, o meio dia velho; aquele pai que “era um bô home”.
Resta agradecer ao autor esta viagem no tempo, por espaços que já foram e estas personagens que parece também terem-se já cruzado connosco, numa qualquer rua da cidade.
 Mariana
10 de julho de 2013



A obra, escrita por Luís Henrique Fernandes,  foi-me oferecida pelo autor, em Castromil de Castela, durante o XIX Encontro de Fotógrafos e Blogues do Alto Tâmega e da Galiza. Já nos tínhamos cruzado em anterior encontro da blogosfera e conhecia-o da internet  pelo pseudónimo de Tupamaro. Os seus comentários no blogue Travancas da Raia, marcados por uma linguagem truculenta e jocosa, deram-me dele a imagem de homem culto, cioso das raízes tamaganas, povo celta que habitou as terras da euro-cidade Verin-Chaves. 


Neste XIX Encontro, durante o almoço no restaurante O Cazador, em Pereiro (Galiza), pudemos conversar um pouco mais, tendo ficado a saber que Tupamaro lia Gilles Deleuze e Michel Foucault. Antes dele, só o amigo Kjell, dos tempos da Sorbonne, me falou da admiração por esses dois filósofos. 



O conto, Missa do 7º dia, foi escrito em 2009, em Mozelos, Vila da Feira, onde o autor mora.  O blogue "Chaves, olhares sobre a cidade" publicou-o na íntegra, de abril a julho de 2011, em onze episódios. Clicar aqui para aceder à obra no blogue. Ao Luís Fernandes,  votos de uma inesgotável  veia literária, para que nos continue a  brindar com a  sua saborosa escrita. 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Feira dos Pucarinhos em Vila Real

Dos púcaros à feira da cueca
 
Púcaros de Bisalhães
As duas capitais distritais transmontanas têm feiras anuais com designações associadas à olaria. Feira das Cantarinhas em Bragança e Feira dos Pucarinhos em Vila Real.  Este ano fui às duas. Comparativamente, a de Bragança não é só mais extensa!



Igreja de São Pedro. O santo padroeiro dá o seu nome à feira dos pucarinhos, oficialmente designada Feira de São Pedro, realizada nos dias 28 e 29 de junho.


 
Dois dos quatro oleiros de Bisalhães expuseram os seus produtos no tradicional espaço junto à igreja de São Pedro.  Os  outros ficaram proibidos de ter as barracas abertas, durante a realização da feira, à entrada de Vila Real.
 
 
 
Casa brasonada que pertenceu aos Távoras, família acusada de conspirar contra a vida do rei Dom José I.
 

 
Dona Ana, tecedeira de Agarêz, aldeia de Vila Real onde ainda existem seis. Apesar dos panos de linho serem caros, para a dona Zulmira, tecedeira de Sirarelhos, a presença na feira valia a pena porque se estava a vender bem. 
 
 
 
Panos de linho, de Agarêz. Roupa interior de algodão e fibras substituiramm o linho como matéria prima dos tecidos. Toalhas de mesa ainda se fazem sem ser para decoração.
 
 
 
Latoaria de Vila Real, arte a que o senhor Júlio, benfiquista, continua a dedicar-se, apesar da concorrência dos plásticos.
 
 

 Objetos decorativos.



Plantas medicinais.
Bebo chá de carqueja, provei caldo de urtigas... E porque não experimentar mezinhas feitas com flor de sabugueiro ou de malva, planta conhecida dos romanos para curar ressacas?
 


Porta de madeira com ornamentos feitos manualmente, em prédio da zona histórica. Uma preciosidade em risco de se perder!
 
 
 
Feira da cueca
 
A tradição de comprar púcaros de barro preto já lá vai. Agora, dizem vendedeiras e compradores, em entrevistas à televisão, a tradição consiste em usar cuecas novas compradas na feira de São Pedro.
 
 
 
A cinco euros,  meia dúzia de cuecas.
Camisas "Lacoste", a 10 euros...


Mudam-se os tempos, mudam-se as tradições.